Reforma deve ser concluída em dois meses
Por: Redação Circuito Turístico/Silvia Zarbato
O município de Pedras Grandes, no sul do Estado, é conhecido como o berço da imigração italiana e rico em história, por este motivo, recebe turistas e moradores da região. Muitos são os projetos na área turística e cultural são fomentados para alavancar ainda mais o turismo na cidade.
Pedras Grandes se prepara para receber dentro de dois meses, a locomotiva Skoda 202 que está sendo restaurada por antigos maquinistas e mecânicos da RFFSA, reunidos pela Sociedade dos Amigos da Locomotiva a Vapor (SALV), mantenedora do Museu Ferroviário de Tubarão/SC. O trem será instalado na antiga estação ferroviária, localizada no centro da cidade, e destina´- se à visitação pública consistindo em mais um atrativo turístico do município.
Segundo material enviado pelo secretário de Turismo e Cultura da cidade, Júlio Cancellier, no dia 2 de março de 2022 foi publicado no Diário Oficial da União o ato de doação ao município de Pedras Grandes do bem móvel denominado “Locomotiva a Vapor da fabricante SKODA e modelo Santa Fé de 1949 – N° 202 – Classe (2-10-2)” (NBP 654575), localizado em Tubarão/SC, com a devida aprovação da Diretoria Colegiada do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT),
Restava ainda o difícil e especializado trabalho de restauro da locomotiva, o que se tornou possível com uma emenda parlamentar da deputada estadual Ada Faraco de Luca e autorização do governador Carlos Moisés da Silva, viabilizando um investimento de R$ 532.064.01.
“Um pedaço significativo da história do sul catarinense está sendo recuperado e preservado, o que vai servir para melhor contar a nossa história e impulsionar o turismo de Pedras Grandes”, afirma Júlio Cancellier, secretário municipal de turismo e cultura de Pedras Grandes.
Os responsáveis pela reforma esperam concluir o trabalho em dois meses. “ Provavelmente será aberta à visitação em abril deste ano”, afirma o prefeito Agnaldo Filippi.
Locomotiva
Trata-se de uma locomotiva de carga de dois cilindros movida a vapor, identificada com o nº 202, classe 2-10-2, modelo Santa Fé, fabricada em 1949 pela Skoda (Tchecoslováquia, hoje parte da República Tcheca). O projeto original é da fabricante alemã Henschell & Sohn, que foi responsável pela construção das primeiras unidades, de 1937.
As locomotivas desta série foram encomendadas para a ferrovia Santa Fé, nos Estados Unidos. Depois foram vendidas para os Ferrocarriles del Estado Argentino (FCEA) e no final da década 1970 adquiridas em segunda-mão pela E. F. Dona Teresa Cristina, num lote que ia do número 200 ao 210.
Foram negociadas pelo Brasil no final de 1970 para operar exclusivamente na Ferrovia Dona Tereza Cristina (FDTC), então Regional nove da RFFSA, com a finalidade de transportar carvão para o Lavador de Capivari, SC, e Termoelétrica Jorge Lacerda, administrada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Com tração a vapor, operou na FDTC até o início da década de 1990, quando foi definitivamente aposentada. Onze locomotivas desse modelo foram importadas da FERROCARRILES – General Belgrano, Argentina. Antes de ser trazida para o Brasil, na década de 1970, sua numeração original era 1347 EF BELGRANO.
Foram trazidas para o Brasil via rede ferroviária boliviana, passando pela antiga NOB antes de seguir para SC.
Segundo Flavio R. Cavalcanti em artigo publicado no site VFCO, da FCGB argentina — que as empregava na linha do Trasandino Norte, entre Salta e Socompa, nos Andes —, as 11 locomotivas “Santa Fé” Henschel e Skoda (desenho Baldwin) adquiridas em 1979 para a EFDTC partiram no ano seguinte em 2 comboios, de Tucumán para a fronteira da Bolívia, seguindo por Yacuiba e Santa Cruz de la Sierra (Enfe – Red Oriental) até Corumbá, Bauru (SR-4/RFFSA), Ourinhos, Ponta Grossa, Jaguariaíva, Mafra (SR-5/RFFSA) e Porto Alegre (SR-6/RFFSA), onde chegaram após 4.721 km, 1 golpe de estado (Bolívia) e 45 dias.
Duas alternativas mais curtas — pela Sorocabana até Santos e navegação até São Francisco do Sul; ou por ferrovia até São Francisco do Sul, de onde seguiriam por carretas — foram descartadas devido ao gabarito insuficiente de um viaduto sobre a rodovia nas proximidades de Florianópolis. Daí, a opção por Porto Alegre, onde chegaram a 19 de agosto de 1980, sendo embarcadas para Tubarão, onde chegaram no início de setembro
Essas unidades são do tipo Santa Fé (2-10-2), feitas para ferrovias com curvas de raio longo para puxarem preferencialmente trens de cargas, devido à sua morfologia pesada e caracterizada por alto esforço de tração.
Segundo o manual original, esta locomotiva com bitola de 1000 mm possui rodas giratórias radialmente na frente e atrás está em cinco cúpulas machados. O do meio, o propulsor, tem roda sem aro. Possui uma poderosa caixa de fogo de aço feita de chapa de metal especial da mais alta qualidade, equipada com termossifões e a câmara de combustão. A estrutura da barra da locomotiva consiste em duas placas laterais de aço laminado. As alças de ombro dispostas sobre os rolamentos do eixo deslizante juntamente com a alavanca de compensação formam dois grupos de cada lado. A barra de tração especial é fornecida com mancais deslizantes externos. O peito dianteiro da locomotiva atinge uma cicatriz média e um dispositivo de engate. O cilindro de vapor, o motor e o mecanismo de direção são feitos de estolas de fábrica da melhor qualidade. O conjunto assenta-se em seis eixos, que se dividem em dois veículos de três eixos. Tem uma grande capacidade de água.
As locomotivas eram movidas por lenha ou carvão, combustível que foi adotado na nossa região. Potente e vistosa, a locomotiva tinha capacidade de tração de 15.900 quilograma-força e a pressão da caldeira chegava a 180 libra-força por polegada quadrada. A velocidade máxima era de 60 quilómetros por hora, utilizando para frenar os 168 toneladas do conjunto de locomotiva e tender em marcha um sistema com ar comprimido. O controle é operado através de um sistema de mecanismo de reversão Skoda. O freio a ar Westinghouse atua em todas as rodas secundárias.
Depois de alguns anos encostada no pátio da FTC em Tubarão, onde lentamente se deteriorava, foi destinada a uma outra instituição que transferiu a preferência para a Prefeitura de Pedras Grandes. Encontrava-se em péssimo estado de conservação, com oxidação severa, perda de partes e comprometimento generalizado da chaparia, devido a exposição às intempéries.
Foto: Prefeitura Municipal de Pedras Grandes